Nome: Angelica
Data de Falecimento: 03/12/2019
Ela era assim
Angelica era mãe, avó e tataravó.
Antes de ser diagnosticada com depressão severa, aos 68 anos ela era extremamente ativa.
Lembro-me que alguns dias antes de começar a aparecer os primeiros sintomas, ela veio à minha casa, perguntou:
– Tô vendo algumas redes suas aqui que estão se acabando, acho que precisa serem lavadas.
– Eu falei: Vó, eu consegui alguém para lavar pra mim, é só uma questão de tempo.
– Ela disse:
– Tempo é agora, deixa que eu faço isso para você, pois parece cansada.
E foi assim que minha avó Angélica, mesmo em idade avançada, pegou 3 bacias, arrumou o sabão e kiboa, pegou um “pau de vassoura” e passou a manhã lavando com suas próprias mãos as 5 redes, que estavam a mofar em meu guarda roupa.
Essa foi a última lembrança que tive de minha avó saudável, alguns dias depois ela começou a se sentir mais preocupada em virtude de muitas contas a pagar.
Se importava com tudo: luz ligada, torneira pingando, comida sobejando.
E assim, aos poucos a ansiedade lhe tomava conta e ela vinha desmoronando.
Chegou um dia em que os médicos não tinham mais esperança por outras implicações que o corpo debilitado apresentava, por que rejeitava se alimentar.
Lembro do dia que minha tia a tirou do hospital e nos disse: A família tem que ajudar.
E iniciamos um rodízio de cuidados com minha avó.
Dávamos alimentação em seringa e logo depois o corpo já estava reagindo. Eu falei corpo físico, por que mentalmente o esquecimento batia, até vir o diagnóstico de Alzheimer.
Depois desse episódio, e com muito amor e cuidado ela viveu por mais 13 anos.
O início do ano era a data em que toda a família a se reunia para comemorar seu aniversário.
Cada qual falava em seu ouvido de coisas que pudessem ajudá-la a lembrar de algo. Ela reagia com alguns movimentos bruscos. Mas nada falava.
E Angélica viveu 90 anos e deixou um legado de persistência.
Ela insistiu em viver o tempo todo.
E isso nos fez felizes.-